Continuando a segunda parte
sobre a vida de São João M. Vianney, contada por Sua Santidade Bento XVI.
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Esta sintonia pessoal com o
Sacrifício da Cruz levava-o – por um único movimento interior – do altar ao
confessionário. Os sacerdotes não deveriam jamais resignar-se a ver seus
confessionários desertos, nem limitar-se a constatar o menosprezo dos fiéis por
este Sacramento.
Na França, no tempo do Cura
d’Ars, a confissão não era mais frequente do que nos nossos dias, pois a tormenta
revolucionária tinha longamente sufocado a prática religiosa. Mas ele procurou
de todos os modos, com a pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus
paroquianos redescobrirem o significado e a beleza da Penitência sacramental,
apresentando-a com uma exigência íntima da Presença eucarística.
Pôde assim dar início a um círculo virtuoso. Com as longas
permanências na igreja junto do sacrário, fez com que os fiéis começassem a
imitá-lo, indo até lá visitar Jesus, e ao mesmo tempo estivessem seguros de que
lá encontrariam o seu pároco, disponível para os ouvir e perdoar. Em seguida, a
multidão crescente dos penitentes, provenientes de toda a França, haveria de o
reter no confessionário até 16 horas por dia. Dizia-se então que Ars se tinha
tornado “o grande hospital de almas”. [...]
Foi precisamente a adesão
sem reservas a este “novo estilo de vida” que caracterizou o trabalho
ministerial do Cura d’Ars.
Ele soube viver os
“conselhos evangélicos” segundo modalidades apropriadas à sua condição de
presbítero. Com efeito, a sua pobreza
ao foi a mesma de um religioso ou monge, mas a requerida a um padre: embora
manejasse muito dinheiro (dado que os peregrinos mais abonados não deixavam de
se interessar por suas obras sócio-caritativas), sabia que tudo era dado para a
sua igreja, para os pobres, os seus órfãos, as meninas da sua Providence, as suas famílias mais
indigentes. Por isso, ele era “rico para
dar aos outros e muito obre para si mesmo”. Explicava: “O meu segredo é simples: dar tudo e não guardar nada”. Quando se
encontrava com as mãos vazias, dizia contente aos pobres: “Hoje sou pobre como vós, sou um dos vossos”. Deste modo pôde, ao
fim da vida, afirmar com absoluta serenidade: “Não tenho mais nada. Agora o bom Deus pode chamar-me quando quiser!”.
Também a sua castidade era aquela que se requeria a
um padre para o seu ministério. Pode-se dizer que era a castidade conveniente a
quem deve habitualmente tocar a Eucaristia e que habitualmente a fixa com todo
o entusiasmo do coração e com o mesmo entusiasmo a dá aos seus fiéis. Dele se
dizia que “ a castidade brilhava em seu
olhar”, e os fiéis apercebiam-se disso quando ele se voltava para o
sacrário fixando-o com os olhos de um enamorado.
Também a obediência de São João Maria Vianney foi
toda encarnada na dolorosa adesão às exigências diárias do seu ministério. É
sabido como o atormentava o pensamento da sua própria inaptidão para o
ministério paroquial e o desejo que tinha de fugir “para chorar a sua pobre vida, na solidão”. Somente a obediência e
a paixão pelas almas conseguiam convencê-lo a continuar no seu lugar. A si
próprio e aos seus fiéis explicava: “Não
há duas maneiras boas de servir a Deus. Há apenas uma: servi-lo com Ele quer
ser servido”. A regra de ouro para levar uma vida obediente parecia-lhe esta:
“Fazer só aquilo que pode ser oferecido
ao bom Deus”.
Amados sacerdotes, Cristo
conta convosco. A exemplo do Santo Cura d’Ars, deixai-vos conquistar por Ele e
sereis também vós, no mundo atual, mensageiros de esperança, de reconciliação e
de paz.