Ao entrar Deus te abençoe. Ao sair Maria te acompanhe!

Bem-aventurados são aqueles que tomam suas cruzes e seguem fielmente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Como todo bom cristão, somos contra qualquer tipo de agressão a dignidade humana, contra o aborto, a eutanásia, o homossexualismo, contra a opressão e a selvageria do sistema capitalista e o ateísmo diabólico do comunismo, contra os modernismos infundados e o desprezo da tradição católica. Somos a favor da Doutrina Social da Igreja, obedientes às orientações do Santo Padre Bento XVI e completamente entregues à vontade de Deus, crentes que fora da Santa Igreja Católica Apostólica Romana não há nem haverá meios de salvação!
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3 de fevereiro de 2013

Domingo da Sexagésima


Leituras: Segunda Epístola de São Paulo aos Coríntios, 11, 19-33 e 12, 1-9.
              Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas, 8, 4-15.

   "Naquele tempo, tendo-se reunido uma grande multidão, como tivessem ido a Jesus os habitantes de várias cidades, propôs-lhes Ele esta parábola: Saiu o semeador a semear sua semente; e ao semeá-la, parte caiu junto ao caminho e foi pisada, e as aves do céu a comeram. Outra parte caiu sobre a pedra, e quando nasceu, secou logo, por não haver umidade. Outra parte caiu entre espinhos, e os espinhos, nascendo com ela, a sufocaram. E outra parte caiu em boa terra, e depois de nascer, deu fruto, cento por um. Dito isto, clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Seus discípulos perguntaram-Lhe, pois, que significava essa parábola. E Ele lhes respondeu: A vós é dado conhecer o Mistério do Reino de Deus, porém aos outros se fala em parábolas, para que olhando, não vejam, e ouvindo, não entendam. Este é, pois, o sentido da parábola: A semente é a palavra de Deus. Os que estão ao longo do caminho, são os que a ouvem, mas vindo depois o diabo, tira-lhes a palavra do coração, para que se não salvem, crendo nela. Os de sobre a pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram. porém estes não têm raízes: até certo tempo creem, mas, no tempo da tentação, desviam-se. A que caiu entre os espinhos: são estes os que ouviram, porém indo, afogam-se com cuidados, riquezas e deleites da vida, e não dão fruto. E a que caiu em boa terra: são os que, ouvindo a palavra, guardam-na com o coração bom e perfeito e dão fruto na paciência". 

   Caríssimos e amados leitores em Nosso Senhor Jesus Cristo!

A parábola do semeador
   É a parábola do semeador. De todas as parábolas de Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma das mais importantes e instrutivas; porque contém em figura o mistério da Encarnação, a obra da pregação evangélica e toda a economia da nossa salvação. Faz-nos ver, de um lado, a bondade inefável de Deus abaixando-se até nós, e semeando a sua palavra e a sua graça com uma liberalidade sem limites; e, do outro lado, a dureza e ingratidão dos homens, dos quais a maior parte são infiéis e inutilizam os dons de Deus. Mostra ainda a sua importância o cuidado caritativo de Nosso Senhor em explicá-la por si mesmo aos seus discípulos, o que só fez com esta e com a parábola da cizânia.
   Quem é o semeador? É o próprio Verbo, o Filho de Deus. Desceu à terra para semear em nossos corações e fecundá-los, para lançar neles a semente do seu Evangelho, isto é, para   revelar-nos os mistérios do reino dos Céus, para derramar em nós as suas graças e as suas misericórdias e para transformar os homens, de terrenos estéreis que eram, em homens celestes, capazes de produzirem frutos de santidade dignos da vida eterna.
 

Trecho de terreno da Palestina que relembra
a parábola do semeador. No primeiro plano
vê-se uma estrada; mais acima, uma zona de
terreno pedregoso, no centro do qual há
cardos espinhosos; ainda mais além, uma
faixa de bom terreno, onde a semente pode
crescer e dar frutos.
   Qual é a semente? Jesus no-lo diz: É a palavra de Deus. É Nosso Senhor, pois que o Verbo de Deus é, ao mesmo tempo, semeador e semente depositada nos sulcos das nossas almas. Ele se semeia por assim dizer a si mesmo em nós, pela sua doutrina divina, pelas suas santas inspírações, pelos seus Sacramentos, sobretudo pela adorável Eucaristia. Nosso Senhor é ainda semeado pela pregação dos Apóstolos e de todos os seus sucessores legítimos de todos os tempos e de todos os lugares, isto é, pelo ensino, legislação e Liturgia da Igreja Católica; pelos bons livros e pelos exemplos dos santos. Quem poderia exprimir o preço e a virtude desta divina semente? que graça e que força íntima e oculta ela possui para regenerar o mundo e santificar os homens! foi por esta palavra que Deus tudo criou do nada. Foi ela que extirpou os vícios grosseiros do paganismo e que fez florir por toda a parte as belas virtudes do Cristianismo. Ela conserva sempre a mesma eficácia soberana; e, se é mais ou menos frutuosa, isso provém das nossas disposições.
   Justamente os diferentes terrenos significam os corações dos homens que recebem a palavra divina, com muito diversas disposições. A semente que caiao longo do caminho, segundo explica o próprio Jesus, designa aqueles que ouvem a palavra; mas em seguida vem o demônio e lhes retira essa palavra do coração.
  Essa classe de pessoas é a das almas dissipadas, levianas, frívolas, preguiçosas; corações indiferentes, semelhantes a uma estrada larga, onde o ruído é  ensurdecedor, o terreno muito batido e endurecido sob os pés dos viandantes que passam em todos os sentidos. A palavra de Deus depressa é calcada e esmagada pelas paixões más, o orgulho, os ressentimentos, os ódios, etc... Ou não é acolhida por essas almas dissipadas e endurecidas, ou só é ouvida com desdém e indiferença. O demônio rouba esta semente, semelhante nisto às aves do céu, que, no tempo das sementeiras, comem os grãos que não ficam cobertos pela terra. 
   A semente que cai sobre terreno pedregoso, explica Jesus, designa aqueles que, tendo ouvido a palavra de Deus, a recebem com alegria; mas, como não têm raízes, não crêem senão por algum tempo e, no momento da tentação, retiram-se e sucumbem.
   Essa classe de homens é a das almas superficiais que, ouvindo a palavra de Deus, a recebem com alegria, isto é, começam a converter-se, formam as mais belas e úteis resoluções, e parecem prontas a tudo para Deus. Mas falta-lhes vontade firme e séria: não há nelas senão vaidade, presunção e inscontância; não têm raízes bastante profundas; não são bem arraigadas na fé. Não têm suficiente fundo de humildade, de desconfiança de si mesmas e de confiança em Deus. Por isso, a mais pequena tentação as abala; as cruzes desta vida, as tribulações, algumas leves perseguições pela justiça e pela fé, as prostram e fazem perecer a sua virtude sem raízes; sucumbem, deixam o caminho direito, e acabam por se afastar miseravelmente.
   A semente que cai entre os espinhos, explica Jesus, figura aqueles que ouviram a palavra, mas indo, em pouco tempo esta palavra é abafada pelos cuidados e embaraços do mundo, pela ilusão das riquezas, pelos prazeres do mundo e pelas outras paixões, de sorte que não produzem fruto nenhum.
   Esta categoria é a das almas divididas, embaraçadas pelos prazeres e pelos cuidados excessivos dos bens da terra, que quereriam servir ao mesmo tempo a Deus,  ao prazer e ao  dinheiro. Esta sede insaciável das riquezas, das honras e dos prazeres abala a boa semente nestes corações carnais ou terrestres, isto é, destrói neles todos os bons sentimentos, a vontade de trabalhar na salvação, e mesmo todos os pesares ou remorsos que a palavra de Deus faz brotar neles.
   A semente que cai em terra boa, segundo a explicação de Nosso Senhor Jesus Cristo, são aqueles que tendo ouvido a palavra, a conservam num coração bom e excelente, e produzem frutos pela paciência.
   A esta categoria pertencem as almas bem preparadas, as almas humildes e piedosas, libertas dos laços do pecado, cheias de generosidade, desapegadas das coisas do mundo e ávidas de agradar a Deus, de O servir e de O glorificar. Estas almas ouvem a palavra de Deus com atenção, respeito e amor.
   Produzem frutos pela paciência, isto é, são obrigados, para se santificarem, a vigiar, trabalhar, sofrer, combater sem cessar, porque esta é a nossa condição neste mundo.
   Umas  produzem trinta por um, outras sessenta, outras cem, segundo a proporção dos talentos e das graças recebidas, ou segundo a perfeição da cultura, ou segundo os diversos graus da sua caridade para com Deus.
   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo! Tomemos a resolução de ler e escutar doravante a palavra divina sempre com mais atenção e devoção a fim de que nos guarde, nos santifique e nos torne dignos da recompensa do Céu. Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática! Amém!

29 de janeiro de 2013

Comentário ao Evangelho de hoje


Naquele tempo, chegaram a casa onde estava Jesus, sua mãe e seus irmãos que, ficando do lado de fora, O mandaram chamar. A multidão estava sentada em volta dele, quando lhe disseram: «Estão lá fora a tua mãe e os teus irmãos que te procuram.» Ele respondeu: «Quem são minha mãe e meus irmãos?» E, percorrendo com o olhar os que estavam sentados à volta dele, disse: «Aí estão minha mãe e meus irmãos. Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe. (Mc. 3, 31-35)

Comentário ao Evangelho por Santo Irineu de Lyon

Nossa Senhora do Sim: aquela que faz a vontade de Deus
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir 
Contra as heresias III, 21,9-22,1; cf SC 211

Deus havia prometido que da linhagem de David sairia o Rei eterno que reuniria todas as coisas em Si mesmo (Sl 131,11; Ef 1,10). Portanto, Deus retomou a obra que tinha projetado inicialmente (Gn 2,7). [...] E, tal como Adão, o primeiro homem modelado, recebeu a sua substância de uma terra virgem e imaculada [...] e foi moldado pela mão de Deus, isto é, a Palavra de Deus «por quem todas as coisas foram feitas» (Jb 10,8; Jo 1,3) [...], do mesmo modo foi de Maria ainda virgem que nasceu o Verbo, que é esta recuperação de Adão. [...] Por que foi que Deus não o tirou de novo do barro? Por que fez sair de Maria a obra que modelou? Foi para que a obra assim modelada não fosse diferente da primeira, mas a mesma, que não fosse outra a que é salva, mas a mesma, que a mesma fosse retomada, respeitando a semelhança.
Portanto, enganam-se os que dizem que Cristo nada recebeu da Virgem. Estes querem rejeitar a herança da carne, mas rejeitam também a semelhança [...]; já não se poderia dizer que Cristo era semelhante ao homem feito à imagem e à semelhança de Deus (Gn 1,27). Era o mesmo que afirmar que Cristo Se manifestou apenas na aparência, aparentando ser um homem, ou que Se tornou um homem sem nada assumir do homem. Se Ele não recebeu de um ser humano a substância da Sua carne, não Se fez homem nem Filho do homem; e se não Se fez aquilo que nós éramos, pouca importância têm as Suas dores e o Seu sofrimento. [...] O Verbo de Deus fez-Se verdadeiramente homem, recuperando em Si mesmo a obra que Ele tinha modelado. [...] O apóstolo Paulo afirma claramente na carta aos Gálatas: «Deus enviou o Seu Filho, nascido de uma mulher» (4,4).

28 de janeiro de 2013

Na cruz não falta nenhum exemplo de virtude

Das Conferências de Santo Tomás de Aquino, presbítero
 (Colatio 6 super Credo in Deum)
 (Séc.XIII)
  Que necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla: para ser remédio contra o pecado e para exemplo do que devemos praticar. Foi em primeiro lugar um remédio, porque na paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males que nos sobrevêm por causa dos nossos pecados. Mas não é menor a utilidade em relação ao exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tema fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude. Se procuras um exemplo de caridade: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Assim fez Cristo na cruz. E se ele deu sua vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por causa dele. Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente! Podemos reconhecer uma grande paciência em duas circunstancias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora, Cristo suportou na cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque atormentado, não ameaçava (1Pd 2,23); foi levado como ovelha ao matadouro e não abriu a boca (cf. Is 53,7; At 8,32). é grande, portanto, a paciência de Cristo na cruz. Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infamia (cf. Hb 12,1-2). Se procuras um exemplo de humildade, contempla o crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer. Se procuras um exemplo de obediência, segue aquele que se fez obediente ao Pai até à morte: Como pela desobediência de um só homem, isto é, de Adão, a humanidade toda foi estabelecida numa condição de pecado, assim também pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça (Rm 5,19). Se procuras um exemplo de desprezo pelas coisas da terra, segue aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e que na cruz está despojado de suas vestes, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e, por fim, tendo vinagre e fel como bebida para matar a sede. Não te preocupes com as vestes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes (Jo 19,24); nem com honras, porque fui ultrajado e flagelado; nem com a dignidade, porque tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em minha cabeça (cf. Mc 15,17); nem com os prazeres, porque em minha sede ofereceram-me vinagre (Sl 68,22). 

27 de janeiro de 2013

Domingo da Septuagésima

Leituras: Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, 9, 24-27; 10, 1-5.
                Evangelho segundo São Mateus, 20, 1-16.

   "Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: O Reino dos Céus é semelhante a um pai de família que saiu ao romper da manhã a contratar operários para a sua vinha. Tendo ajustado com alguns por um dinheiro ao dia, mandou-os para a sua vinha. Saindo perto da hora terceira, viu outros que estavam ociosos na praça. E disse-lhes: Ide vós também, para minha vinha, e dar-vos-ei o que for justo. E eles foram. Saiu outra vez perto da sexta e da nona hora, fez o mesmo. E saindo quase à undécima hora, ainda achou outros por ali, e disse-lhes: por que ficais aqui ociosos todo o dia? Responderam-lhe eles: porque ninguém nos contratou. Ele lhes disse: Ide vós também para a minha vinha. Caindo já a tarde, disse o Senhor da vinha a seu feitor: Chama os trabalhadores e paga-lhes a diária, a começar dos últimos até os primeiros. Chegando, pois, os que tinham vindo perto da undécima hora, cada um recebeu um dinheiro. vindo, depois, os primeiros, julgaram que haviam de receber mais; receberam, porém, um dinheiro cada um. Tomando-o murmuravam contra o pai de família, dizendo: Estes últimos trabalharam uma hora, e os igualastes conosco que suportamos o peso e o calor do dia. Ele, porém, respondendo a um deles, disse: Amigo, não te faço injustiça: não te ajustaste comigo por um dinheiro? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura não é lícito a mim fazer o que eu quiser [dos meus bens]? Ou é invejoso o teu olho porque eu sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros, os últimos, porque muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos". 

   Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

   Neste mundo nos manda Deus trabalhar na sua vinha para merecermos o salário, isto é, a recompensa prometida, a felicidade do Céu. Esta vinha do Senhor é a nossa alma, que Ele pode seguramente chamar sua, porque ela Lhe pertence por todos os títulos. Foi Ele quem a plantou. Tendo-a o demônio assolado e devastado, Ele resgatou-a, não com ouro ou prata, mas com o seu sangue precioso e restaurou-a com infinitos cuidados. Deus plantou-a e regou-a, resta-nos cooperar e acabar o resto do trabalho para que produza frutos.
   A vinha, sendo a mais preciosa das árvores pelo seu fruto, e dele tirando o seu valor, é também de todas as árvores a que exige mais cuidados e trabalhos. A nossa alma em virtude da sua origem divina e do seu destino sublime, é a mais preciosa coisa do mundo.
   Os cuidados que exige a vinha são a figura dos cuidados que devemos ter com a nossa alma:
1º - Cavá-la e adubá-la. Relativamente à alma, quer isto dizer que deve ser cultivada com a prática das virtudes: humildade, compunção e penitência.
2º - Podá-la, isto é, libertá-la de todos os ramos inúteis que absorvem e esgotam a seiva sem proveito. Para a alma é renunciar a tudo o que é supérfluo e prejudicial, quer para ela, quer para os outros com quem se covive. É o trabalho custoso da mortificação, da abnegação e do sacrifício. E é um trabalho de sempre.
3º - Especá-la, isto é, escorá-la para evitar que as tempestades a derrubem, tanto mais que as cepas, por sua natureza, não têm consistência para se conservarem direitas. Para a alma o Senhor dignou-se multiplicar-lhe os sustentáculos, ou sejam, a fé e confiança em Deus, a lembrança da Cruz e Paixão de Jesus e os Sacramentos.
4º - Cercá-la com um muro para a preservar do assalto dos ladões e dos animais. Para a alma isso significa a observação da lei de Deus, a vigilância contínua, a fuga das ocasiões perigosas, a modéstia, a mortificação dos sentidos, a oração, a devoção a Nossa Senhora.
5º - Chuva e o sol que dependem não da vontade do viticultor, mas do céu. Do mesmo modo é necessário que desça até à alma o orvalho celeste, isto é, a graça de Deus, a suave influência do sol, isto é, a infusão do Espírito Santo, do amor divino. E isto depende da nossa vontade, do nosso fervor na oração e na frequência dos Sacramentos.
   Em compensação, o Pai de família nos dará, na tarde do nosso dia, o justo salário que merecemos.
   Ao contrário, a vinha estéril, que dizer, a alma infiel, deve recear que Deus execute a sua ameaça e lhe recuse a chuva fecunda da sua graça e das suas bênçãos.
   Uma vinha abandonada enche-se em pouco tempo de silvas e só dá cachos azedos. Assim é a alma; se é mal cultivada ou abandonada, depressa se enche de defeitos, de vícios, de toda a espécie de pecados e ficará incapaz de produzir bom fruto.
   Ao contrário, uma vinha bem cultivada dá uvas suculentas, o melhor talvez de todos os frutos. Do mesmo modo, uma alma bem cuidada produz a virtude por excelência, a caridade, que é o vínculo da perfeição e a plenitude de toda a lei. Depois a caridade, por sua vez, produz todas as virtudes cristãs.
   Irmãos caríssimos, possivelmente passamos muitos anos em dissipação espiritual, apressemo-nos a recuperar e reparar algum deste tempo perdido. Talvez que esta homilia seja o supremo apelo divino, o convite da undécima hora.
   Pelas entranhas de misericórdia do Senhor Deus, reflita cada um, vença as suas repugnâncias e queira, com a graça poderosa e infalível de Deus, ser do pequeno número dos eleitos. Amém!


13 de janeiro de 2013

Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo

- Homilia de Dom Henrique Soares da Costa -

Celebramos hoje a solene Manifestação, a sagrada Epifania do Senhor. Como dizia Santo Agostinho, “celebramos, recentemente, o dia em que o Senhor nasceu entre os judeus; celebramos hoje o dia em que foi adorado pelos pagãos. Naquele dia, os pastores o adoraram; hoje, é a vez dos magos”. A festa deste dia é nossa, daqueles que não são da raça de Israel segundo a carne, daqueles que, antes, estavam sem Deus e sem esperança no mundo! Hoje, Cristo nosso Deus, apareceu não somente como glória de Israel, mas também como “luz para iluminar as nações” (Lc 2,32). Hoje, começou a cumprir-se a promessa feita a nosso pai Abraão: “Por ti serão benditos todos os clãs da terra” (Gn 12,3).
Na segunda leitura desta Missa, São Paulo nos falou de um Mistério escondido e que agora foi revelado: “os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho”. Eis: com a visita dos magos, pagãos vindos de longe, é prefigurado o anúncio do Evangelho aos não-judeus, aos pagãos, aos que desconheciam o Deus de Israel. Ainda Santo Agostinho, explicando o mistério da festa hodierna, explicava muito bem: “Ele é a nossa paz, ele, que de dois povos fez um só (cf. Ef 2,14). Já se revela qual pedra angular, este Recém-nascido que é anunciado e como tal aparece nos primórdios do nascimento. Começa a unir em si dois muros de pontos diversos, ao conduzir os pastores da Judéia e os Magos do Oriente, a fim de formar em si mesmo, dos dois, um só homem novo, estabelecendo a paz. Paz para os que estão longe e paz para os que estão perto”. É este o sentido da solenidade da santa Epifania do Senhor!
Hoje, cumpre-se o que o profeta Isaías falara na primeira leitura: “Levanta-te, Jerusalém, acende as luzes, porque chegou tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens cobrem os povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti! Levanta os olhos ao redor e vê: será uma inundação de camelos de Madiã e Efa; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando a glória do Senhor!” Mas, estejamos atentos, porque a festa de hoje esconde um drama: a Jerusalém segundo a carne não reconheceu o Salvador: “O rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém”. Ela conhecia a profecia, mas de nada lhe adiantou, pela dureza de coração. É na nova Jerusalém, na Igreja, que somos nós, na nossa Mãe católica, que esta profecia de Isaías se cumpre. É a Igreja que acolherá todos os povos, unidos não pelos laços da carne, mas pela mesma fé em Cristo e o mesmo batismo no seu Espírito.
Que contraste, no Evangelho de hoje! Jerusalém, que conhecia a Palavra, não crê e, descrendo, não vê a Estrela, não vê a luz do Menino. Os magos, pagãos, porque têm boa vontade e são humildes, vêem a Estrela do Rei, deixam tudo, partem sem saber para onde iam, deixando-se guiar pela luz do Menino… e, assim, atingem o Inatingível e, vendo o Menino, reconhecem nele o Deus perfeito: “ajoelharam-se diante dele e o adoraram”. Com humildade, oferecem-lhe o que têm: “Abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra”: ouro para o Rei, incenso para o Deus, mirra para o que, feito homem, morrerá e será sepultado! Os magos crêem e encontram o Menino e “sentiram uma alegria muito grande”. Herodes, o tolo, ao invés, pensa somente em si, no seu título, no seu reino, no seu poder… e tem medo do Menino! Escravo de si e prisioneiro de suas paixões, quer matar o Recém-nascido! A Igreja, na sua liturgia, zomba de Herodes e dos herodes, e canta assim: “Por que, Herodes, temes/ chegar o Rei que é Deus?/ Não rouba aos reis da terra/ quem reinos dá nos céus!”. Que bela lição, que mensagem impressionante para nós: quem se deixa guiar pela luz do Menino, o encontra e é inundado de grande alegria, e volta por outro caminho. Mas, quem se fecha para esta luz, fica no escuro de suas paixões, na incerteza confusa de suas próprias certezas, tão ilusórias e precárias… e termina matando e se matando!
Que nós tenhamos discernimento: não procuremos esta Estrela do Menino nos astros, nos céus! Não perguntemos sobre ela aos astrônomos, aos cientistas, aos historiadores. Sobre essa luz, sobre essa Estrela bendita, eles nada sabem, nada têm a dizer! Procuremo-la dentro de nós: o Menino é a Luz que ilumina todo ser humano que vem a este mundo! No século I, Santo Inácio de Antioquia já ensinava: “Uma estrela brilhou no céu mais do que qualquer outra estrela, e todas as outras estrelas, junto com o sol e a luz, formaram um coro, ao redor da estrela de Cristo, que superava a todas em esplendor”. É esta luz que devemos buscar, esta luz que devemos seguir, por esta luz devemos nos deixar iluminar! São Leão Magno, no século V, já pedia aos cristãos: “Deixa que a luz do astro celeste aja sobre os sentidos do teu corpo, mas com todo o amor do coração recebe dentro de ti a luz que ilumina todo homem vindo a este mundo!”. E, também no mesmo século V, São Pedro Crisólogo, bispo de Ravena, falava sobre o mistério deste dia: “Hoje, os magos que procuravam o Rei resplandecente nas estrelas, o encontram num berço. Hoje os magos vêem claramente, envolvido em panos, aquele que há muito tempo procuravam de modo obscuro nos astros. Hoje, contemplam, maravilhados, no presépio, o céu na terra, a terra no céu, o homem em Deus, Deus no homem e, incluído no corpo pequenino de uma criança, aquele que o universo não pode conter. Vendo-o, proclamam sua fé e não discutem, oferecendo-lhe místicos presentes. Assim, o povo pagão, que era o último, tornou-se o primeiro, porque a fé dos magos deu início à fé de todos os pagãos!”
Quanta luz, na festa de hoje! E, no entanto, é preciso que compreendamos sem pessimismo, mas também sem ilusões diabólicas, que este mundo vive em trevas: “Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os povos…” Que tristeza tão grande, constatar que as palavras do Profeta ainda hoje são tão verdadeiras… “Mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti”. Não são trevas as tantas trevas da realidade que nos cerca? Não são trevas a violência, a devassidão, a permissividade, as drogas, a exacerbação da sensualidade? Não são trevas a injustiça, a corrupção e a impiedade? Não é treva densa o comércio de religiões, o coquetel de seitas, a perseguição à Igreja, o uso leviano e interesseiro do Evangelho e do nome santo de Jesus? Não é treva medonha a dissolução da família, a relativização e esquecimento dos valores mais sagrados e da verdade da fé?
Deixemo-nos guiar pela Estrela do Menino, deixemo-nos iluminar pela sua luz! Com os magos, ajoelhemo-nos diante daquele que nasceu para nós e está nos braços da sempre Virgem Maria Mãe de Deus: ofereçamos-lhe nossos dons: não mais mirra, incenso e ouro, mas a nossa liberdade, a nossa consciência e a nossa decisão de segui-lo até o fim. Assim, alegrar-nos-emos com grande alegria e voltaremos ao mundo por outro caminho, “não em orgias e bebedeiras, nem em devassidão e libertinagem, nem em rixas e ciúmes. Mas vesti-vos do Senhor Jesus e não procureis satisfazer os desejos da carne. Deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,13.12).
Terminemos com o pedido que a Igreja fará na oração após a comunhão: “Ó Deus, guiai-nos sempre e por toda parte com a vossa luz celeste, para que possamos acolher com fé e viver com amor o mistério de que nos destes participar!” Amém.

19 de dezembro de 2012

Dos sermões de São Leão Magno - papa


(Sermo 1 in Nativitate Domini, 1-3; PL 54, 190-193)

Toma consciência, ó Cristão, da sua dignidade

Hoje, amados filhos, nasceu o nosso Salvador. Alegremo-nos. Não pode haver tristeza no dia em que nasce a vida; uma vida que, dissipando o temor da morte, enche-nos de alegria com promessa da eternidade. Ninguém está excluído da participação nesta felicidade. A causa da alegria é comum a todos, porque nosso senhor, vencedor do pecado e da morte, não tendo encontrado ninguém isento de culpa, veio libertar a todos. Exulte o justo, porque se aproxima da vitória; rejubile o pecador, porque lhe é oferecido o perdão; reanime-se o pagão, porque é chamado à vida. Quando chegou a plenitude dos tempos, fixada pelos insondáveis desígnios divinos, o Filho de Deus assumiu a natureza do homem para reconciliá-lo com seu criador, de modo que o demônio, autor da morte, fosse vencido pela mesma natureza que antes vencera. Eis por que, no nascimento do Senhor, os anjos cantam jubilosos: Glória a deus nas alturas; e anunciam: Paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14). Eles vêem a Jerusalém celeste ser formada de todas as nações do mundo. Diante dessa obra inexprimível do amor divino, como não devem alegrar-se os homens, em sua pequenez, quando os anjos, em sua grandeza, assim se rejubilam? Amados filhos, demos graças a Deus Pai, por seu Filho, no Espírito Santo; pois, na imensa misericórdia com que nos amou, compadeceu-se de nós. E quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo (Ef 2,5) para que fôssemos nele uma nova criação, nova obra de suas mãos. Despojemo-nos, portanto, do velho homem com seus atos; e tendo sido admitidos a participar do nascimento de Cristo, renunciemos às obras da carne. Toma consciência, ó cristão, da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno de tua condição. Lembra-te de que cabeça e de corpo és membro. Recorda-te que foste arrancado do poder das trevas e levado para a luz e o reino de Deus. Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulses com más ações tão grande hóspede, não recaias sob o jugo do demônio, porque o preço de tua salvação é o sangue de Cristo. 

28 de abril de 2012

Sermão de Padre Antônio Vieira


Entrarão os hereges nesta igreja e nas outras; arrebatarão essa custódia, em que agora estais adorado dos anjos; tomarão os cálices e vasos sagrados, e aplicá-los-ão a suas nefandas embriaguezes; derrubarão doa altares os vultos e estátuas dos santos, deformá-las-ão a cutiladas, e metê-las-ão no fogo; e não perdoarão as mãos furiosas e sacrílegas, nem às imagens tremendas de Cristo crucificado, nem às da Virgem Maria.

Não me admiro tanto, Senhor, de que hajais de consentir semelhantes agravos e afrontas nas vossas imagens, pois já as permitistes em vosso sacratíssimo corpo; mas nas da Virgem Maria, nas de vossa Santíssima Mãe, não sei como isso pode estar com a piedade e amor de Filho. No Monte Calvário esteve esta senhora sempre ao pé da cruz, e com serem aqueles algozes tão descorteses e cruéis, nenhum se atreveu a lhe tocar nem a lhe perder o respeito. Assim foi e assim havia de ser, porque assim o tínheis vós prometido pelo Profeta: Flagellum non appropinquabit tabernaculo tuo. pois, Filho da Virgem Maria, se tanto cuidado tivestes então do respeito e decoro de vossa Mãe, como consentis agora que se lhe façam tantos desacatos? Nem me digais, Senhor, que lá era a pessoa, cá a imagem. Imagem somente da mesma Virgem era a Arca do Testamento, e só porque Oza a quias tocar, lhe tirastes a vida. Pois se havia então tanto rigor para quem ofendia a imagem de Maria, por que não o há também agora? Bastava então qualquer dos outros desacatos às coisas sagradas, para uma severíssima demonstração vossa, ainda miraculosa. Se a Jeroboão, porque levantou a mão para um Profeta, se lhe secou logo o braço milagrosamente, como aos hereges, depois de se atreverem a afrontar vossos santos, lhe ficam ainda braços para outros delitos? Se a Baltasar, por beber pelos vasos do templo, em que não se consagrava vosso sangue, o privastes da vida e do reino, por que vivem os hereges, que convertem vossos cálices a usos profanos? Já não há três dedos que escrevem sentença de morte contra sacrílegos?!

Enfim, Senhor, despojados assim os templos e derrubados os altares, acabar-se-á o culto divino; nascerá erva nas igrejas, como nos campos; não haverá quem entre nelas. Passará um dia de Natal, e não haverá memória de vosso nascimento; passará a Quaresma e a Semana Santa, e não se celebrarão os mistérios de vossa Paixão. Chorarão as pedras das ruas, como diz, Jeremias que choravam as de Jerusalém destruída: Viae Sion lugent, eo quod non sint qui veniant ad solemnitatem. Ver-se-ão ermas e solitárias, e que as não pisa a devoção dos fiéis, como costumava em semelhantes dias. Não haverá missas, nem altares, nem sacerdotes que as digam; morrerão os católicos sem confissão nem sacramentos; pregar-se-ão heresias nestes mesmos púlpitos, e em lugar de São Jerônimo e Santo Agostinho, ouvir-se-ão e alegar-se-ão neles os infames nomes de Calvino e Lutero; beberão a falsa doutrina os inocentes que ficarem; e chegaremos ao estado que, se perguntarem as filhos e netos dos que aqui estão: - Menino, de que seita sois? Um responderá: - Eu sou calvinista; outro: - Eu sou luterano.

Trecho do Sermão  pelo Bom  Sucesso das Armas de Portugal Contra as da Holanda (1640)

11 de março de 2012

Sobre o homossexualismo

Palavras do cardeal escocês Keith O'Brien sobre o homossexualismo. Escrito na Inglaterra, mas serve também para nós aqui no Brasil:


Dissimuladamente, o governo sugeriu que o casamento homossexual não seria obrigatório e as igrejas teriam a opção de não realizá-lo. Isso é incrivelmente arrogante. Nenhum governo tem autoridade moral para desmantelar o significado aceito universalmente de casamento.
Imagine que o governo tivesse decidido legalizar a escravidão, mas garantindo-nos que "ninguém será obrigado a ter um escravo". Será que tais garantias inúteis acalmariam nossa fúria? Será que justificariam o desmantelamento de um direito humano fundamental? Ou simplesmente seriam palavras enganosas para mascarar um grande erro?   
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é clara: o casamento é um direito que se aplica a homens e mulheres, "a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado". 
Esta verdade universal é tão evidente que não precisa ser repetida. Se o governo tenta demolir um direito humano universalmente reconhecido, eles trairão a confiança que a sociedade colocou neles e a sua intolerância irá envergonhar o Reino Unido aos olhos do mundo.

1 de janeiro de 2012

Vencendo a indiferença

Eis abaixo um memorável e emocionante sermão do Servo de Deus Fulton Sheen (1895-1979), bispo americano, sobre o pecado da indiferença. São palavras impactantes e ao mesmo tempo incentivadoras. Assistam!





9 de julho de 2011

Contra o pecado e a homofobia

A respeito da decisão do Supremo Tribunal Federal quanto à união entre pessoas do mesmo sexo, a CNBB em nota oficial reafirmou o princípio da instituição familiar como projeto divino e incentivou todas as famílias a viver fiel e alegremente a sua missão, ressaltando que tão grande é a importância da família que toda a sociedade tem nela a sua base vital.

Conforme a nota, é preciso deixar claro que “a diferença sexual é originária e não mero produto de uma opção cultural. O matrimônio natural entre o homem e a mulher bem como a família monogâmica constituem um princípio fundamental do Direito Natural. As Sagradas Escrituras, por sua vez, revelam que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança e os destinou a ser uma só carne (cf. Gn 1, 27; 2,24). Assim, a família é o âmbito adequado para a plena realização humana, o desenvolvimento das diversas gerações e constitui o maior bem das pessoas”.

A nota da CNBB faz referência à doutrina sobre castidade e homossexualidade, exposta no Catecismo da Igreja Católica, que assim se expressa:

“A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (cf. Gn 19,1-29; Rm 1, 24-27; I Cor 6, 9-10; I Tim 1, 10), a tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’ (Congregação para a Doutrina da Fé, declaração Persona Humana, 8). São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados”.

“Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de descriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã” (nn. 2357-2358).

A nota afirma ainda que as uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo “não podem ser equiparadas à família, que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos”. A equiparação descaracteriza a sua identidade e ameaça sua estabilidade.



D. Fernando Arêas Rifan
Administrador Apostólico da Administração Apostólica S. João Maria Vianney

Comentário ao Evangelho - São Patrício

Evangelho do dia (Mt. 10, 24-33)



Não comecei este trabalho por mim próprio, mas foi Cristo Senhor que me ordenou que viesse passar o resto dos meus dias junto dos irlandeses pagãos - se o Senhor o quiser e se Ele me guardar de qualquer mau caminho. [...] Mas não confio em mim próprio "enquanto resido neste corpo de morte" (2Pe 1,13; Rom 7,24). [...] Não levei uma vida perfeita como outros fiéis, mas confesso-o ao meu Senhor e não me envergonho na Sua presença. Porque eu não minto: depois que O conheci na minha juventude, o amor de Deus cresceu em mim, assim como o Seu temor, e até ao presente, pela graça do Senhor, "guardei a fé" (2 Tim 4,7).
Que se ria pois e me insulte quem quiser; eu não me calarei nem esconderei "os sinais e as maravilhas" (Dan 6,27) que o Senhor me mostrou muitos anos antes de se terem realizado, Ele que conhece todas as coisas. É por isso que devo sem cessar dar graças a Deus, que tantas vezes perdoou os meus disparates e a minha negligência, e também por não Se ter irritado uma única vez comigo, a quem fez bispo. O Senhor «teve piedade» de mim "em favor de milhares e milhares de homens" (Ex 20,6), porque viu que eu estava disponível. [...] Com efeito, muitos foram os que se opuseram a esta missão; falavam mesmo entre si nas minhas costas e diziam: "Porque se lança ele numa tarefa perigosa, entre estrangeiros que não conhecem a Deus?" Não era por malícia que se exprimiam assim; eu próprio, o confirmo: é por causa da minha rudeza que não conseguem compreender porque é que fui nomeado bispo. E eu não fui rápido a reconhecer a graça que estava em mim. Agora, tudo isso se tornou claro para mim.
Agora exponho simplesmente aos meus irmãos e aos meus companheiros de trabalho que acreditaram em mim porque preguei e continuo a pregar (2Cor 13,2), com o fim de fortificar e confirmar a vossa fé. Possais vós ambicionar também as metas mais elevadas e realizar as obras mais excelentes. Isso será a minha glória, porque "um filho sábio é a glória do seu pai" (Pr 10,1).

1 de julho de 2011

Sermão 83 - de Santo Agostinho

“De fato, se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também perdoará a vocês. Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito”. (Mt 6,14-15)


Todo o homem é devedor para com Deus e todo o homem tem no seu irmão um devedor. De fato, quem não tem dívidas para com Deus, à exceção de quem não se encontra em pecado?
E quem não teria o seu irmão por devedor, à exceção do que nunca foi ofendido por ninguém? Todos os homens são, portanto devedores e credores simultaneamente. […]
Um mendigo te pede esmola e tu, tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando Lhe rezamos, os mendigos de Deus. Ficamos, ou melhor, prostramo-nos à porta do nosso Pai de família (cf. Lc 11,5s); suplicamos-Lhe lamentando-nos, desejosos de receber d’Ele uma graça, e essa graça, é o próprio Deus.


Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes tu a Deus que não seja Cristo, Ele que disse: «Eu sou o pão vivo que desceu do céu» (Jo 6,51). Quereis ser perdoados? Perdoai. «Perdoai, e ser-
vos-á perdoado». Quereis receber? «Dai, e ser-vos-á dado» (Lc 6,37). […]

Estejamos prontos para perdoar todas as faltas que cometerem contra nós, se queremos que Deus nos perdoe. Sim, verdadeiramente, se considerarmos os nossos pecados e passarmos em revista as faltas que cometemos, não sei se poderíamos adormecer sem sentir todo o peso da nossa dívida.
Eis porque em cada dia apresentamos a Deus os nossos pedidos, que em cada dia as orações que fazemos Lhe chegam aos ouvidos, que em cada dia nos prostramos, dizendo: «Perdoa as nossas dívidas como nós perdoamos a quem nos deve».
Que dívidas queres que te sejam perdoadas? Todas, ou uma parte? Vais responder: todas. Faz, portanto o mesmo para quem te está devedor.

6 de janeiro de 2011

Vós sois o edifício de Deus

A solenidade da Dedicação da Basílica Lateranense lembra que Deus quer edificar no mundo um templo espiritual. Mas recorda também a importãncia dos eficios materiais, nos quais as comunidades se reúnem para louvar o Criador.

A beleza e a harmonia das igrejas, destinadas a prestar louvor a Deus, convidam também a nós seres humanos, limitados e pecadores, a converter-nos para formar um "cosmos", uma construção bem ordenada, em estreita comunhão com Jesus, que é o verdadeiro Santo dos Santos. Isto aconteceu de modo culminante na Liturgia Eucarística, na qual a "ecclesía", isto é, a comunidade dos batizados, se reúne para ouvir a Palavra de Deus e para se alimentar do Corpo e Sangue de Cristo. Em volta desta dúplice mesa a Igreja de pedras vivas edifica-se na verdade e na caridade e é plasmada interiormente pelo Espírito Santo, transformando-se no que recebe, conformando-se cada vez mais com o seu Senhor Jesus Cristo. Ela mesma se vive na unidade sincera e fraterna, torna-se assim sacrifício espiritual agradável a Deus.
Queridos amigos, a festa de hoje celebra ummistério sempre atual: isto é, que Deus quer edificar no mundo um templo espiritual, uma comunidade que O adore em espírito e verdade. Mas esta celebração recorda também a importãncia dos edifícios materiais, nos quais as comunidades se reúnem para celebrar o louvor de Deus. Cada comunidade tem, portanto, o dever de conservar com cuidado os próprios edifícios sagrados, que constituem um precioso patrimônio religioso e histórico. Invoquemos então a intercessão de Maria Santíssima, para que nos ajude a tornar-nos como Ela, "casa de Deus", templo vivo do seu amor.
(Excerto do Angelus, 9/11/10 - Solenidade da dedicação da Basílica Lateranense) 

A Epifania e a Adoração dos Reis Magos

A fesda da Epifania - denominada pelos gregos de Teofania, ou seja, manifestação de Deus - é comemorada pela Liturgia juntamente com a Adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus.
Nesse acontecimento está contido um público reconhecimento da divindade do Menino Jesus unida à sua humanidade.
O que movia o fundo da alma dos Reis Magos era o desejo de prestar culto de adoração Àquele que acabara de nascer.
A adoração, segundo nos ensina São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, "orienta-se à rever~encia daquele que é adorado". Trata-se de uma virtude especial, chamada religião, à qual "é o próprio prestar reverência a Deus".
Para melhor entendermos, basta dizer que a religião tem seu fundamento em buscar conhecer quem é Deus e o que somos nós; naquilo que Ele nos deu e no que Lhe devemos restituir. Deus é o ser por essência, a Perfeição, o Bem, a Verdade e a Beleza, absoluto e infinito; e nós, pelo contrário, somos criaturas contigentes e portanto dependentes e limitadas: d'Ele recebemos tudo e, em nossa existência, necessitamos da sua sustentação a cada instante.
Se, por assim dizer, no Natal Deus Se manifesta como Homem, na Epifania esse mesmo Homem se revela como Deus. Assim, nestas duas festas, quis Deus que o grande mistério da Encarnação fosse revelado com todo o brilho, tanto aos judeus como aos gentios, dado seu caráter universal.
O significado da moção do Espírito Santo,levando os Reis Magos a Belém,  cifra-se no chamado universal de todas as nações à salvação e à participação nso bens da Redenção.
Se bem que os Profetas houvessem feito provisões sobre a universalidade dessa vocação, os judeus consideravam-na como um privilégio exclusivo do Povo Eleito. É curioso notar como o próprio Senhor em sua vida pública, apesar de elogiar a fé do centurião romano - "Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém em Israel" (Mt 8, 10) -, afirma não ter sido enviado pelo Pai senão para cuidar das "ovelhas dispersas da casa de Israel". Ou seja, não quis Ele chamar diretamente a gentilidade; essa tarefa seria reservada aos Apóstolos, em especial a São Paulo. Mas, com décadas de anteced~encia, os Santos Reis simbolizaram junto do berço do Salvador esse grande desejo de nos redimir também a nós todos da gentilidade, confore as palavras da Oração do Dia: "Ó Deus, que hoje revelastes o vosso Filho às nações, guiando-as pela estrela"; e mais claramente no Prefácio: "Revelastes, hoje, o mistério de vosso Filho como luz para iluminar todos os povos no caminho da Salvação".
Se aos Reis Magos Deus os chamou por meio da estrela, a nós Ele chama através da sua Igreja, com sua pregação, doutrina, governo e Litugia.
Logo, a Epifania é a festa que nos convida a agradecer ao Senhor, como também a Lhe implorar a graça de sermos guiados sempre e por toda a parte através da Sua luz celeste, bem como de acolhermos com fé e vivermos com amor todos os dons que a Santa Igreja continuamente nos oferece.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias - EP  

21 de dezembro de 2010

A realidade mais sólida e mais segura

"Somente a Palavra de Deus é fundamento de toda a realidade", afirmou Bento XVI durante a celebração da Liturgia das Horas, no primeiro dia do Sínodo dos Bispos.

Devemos mudar nossa ideia de que a matéria, as coisas sólidas que se podem tocar, seriam a realidade mais sólida e mais segura. No final do Sermão da Montanha, o Senhor nos fala das duas possibilidades de construir a casa da própria vida: na areia e sobre a rocha. Constrói na areia quem edifica somente sobre coisas visíveis e tangíveis, sobre o sucesso, a carreira e o dinheiro. Aparentemente, essas são as verdadeiras realidades. Mas um dia tudo isso passará. Vemo-lo agora na falência dos grandes bancos: este dinheiro desaparece, não é nada.
E assim todas essas coisas, que parecem ser a verdadeira realidade com a qual se pode contar, são realidades de segunda ordem. Quem constrói a própria vida sobre essas realidades, sobre a matéria, sobre o sucesso e sobre tudo aquilo que se vê, edifica na areia.
Somente a Palavra de Deus é fundamento de toda a realidade, é estável como o céu e mais que o céu, é a realidade. Devemos, pois, mudar o nosso conceito de realismo. Realismo é quem reconhece na Palavra de Deus, nessa realidade aparentemente tão frágil, a base de tudo. Realista é quem constrói a sua vida sobre alicerce que permanece. E assim, estes primeiros versículos do Salmo nos convidam a descobrir o que é a realidade e encontrar, deste modo, o fundamento da nossa vida, como construir a vida.

Papa Bento XVI

14 de dezembro de 2010

As quatro ignorâncias

Quatro ignorâncias podem concorrer em uma amante que diminuam muito a perfeição e merecimento do seu amor: ou porque não se conhecesse a si, ou porque não conhecesse a quem amava, ou porque não conhecesse o amor, ou porque não conhecesse o fim onde há de parar amando.
Se não conhecesse a si talvez empregaria o seu pensamento onde não havia de pôr, se se conhecera. Se não conhecesse a quem amava , talvez quereria com grandes finezas a quem havia de aborrecer, se o não ignora. Se não conhecesse o amor, talvez se empenharia cegamente no que havia de empreender se o soubera. Se não conhecesse o Fim em que havia de para amando, talvez chegaria a padecer os danos a que não havia de chegar se os previra. [...]
 
Padre Antônio Vieira

9 de dezembro de 2010

Amor: vulgaridade e inocência


Caríssimos, hoje quero vos falar sobre amor. Um sentimento que é tão perfeito e belo, mas ao mesmo tempo tão vulgar e sujo. Afinal, que é o amor? Posto que eu respondo: um sentimento que transforma os corações, semea a compreensão, a piedade e, por fim, o sacrifício. Jesus é assim, seu coração esta cheio desta prerrogativa e por isso é tão misericordioso e tão bondoso, quer a salvação de seus filhos.
Por outro lado, na faceta escura da sociedade atual, se esconde outra definição para a palavra amor. Pode-se dizer que, nos dias de hoje, a tudo chamam de amor: um casal homossexual se beijando, um homem cometendo adultério, um filho que rouba e mata... há tantos modos de se encontrar um sinônimo para este sentimento, em qualquer lugar, em qualquer esquina ou beco. São nesses lugares que a escrotez do ser humano toma sua composição mais feia.
Como encaixar amor, de verdade, nas atuais condições? Amor de um homem para com uma mulher nada mais é que carinho e valor, uma vontade enorme de fazer o melhor e estar sempre pronto para sacrificar-se, quando preciso, para o bem do objeto de sua admiração. Amor é um casal de namorados que se respeitam e entendem os limites das realidades alheias a cada um.
Não se ama por luxúria, más paixões ou desejos selvagens de posse. Para amar é preciso saber o que de fato é amor, pois não pode-se fazê-lo sem ter a melhor das intenções e sem haver a mais inocente chama de sinceridade.
Eis a minha resposta para o que venha ser amor.
Frei Bruno F. - OFM Conv.